Em meio aos escombros e ao som constante de drones sobrevoando, a Faixa de Gaza vive um dos momentos mais desesperadores de sua história recente. A situação humanitária se deteriora a cada dia, e buscar comida — algo básico — tornou-se uma missão perigosa, com risco real de morte. Famílias inteiras encaram filas quilométricas, sob calor intenso e insegurança constante, na esperança de conseguir uma sacola com arroz, farinha e enlatados. Algumas pessoas passam até três dias sem comer.
Em um dos centros de distribuição da recém-criada Fundação Humanitária de Gaza, a cena é caótica. Homens armados com facas e até martelos brigam por um espaço na fila. Em vez de ser um local de alívio, esses pontos viraram palco de violência e medo. A palestina Nivin al-Baz conta que seu marido foi esfaqueado enquanto tentava pegar alimentos para a família — e isso é só parte do pesadelo. Pouco tempo depois, ele foi atingido por tiros disparados de um drone israelense enquanto se aproximava do local de distribuição.
Essa não foi uma ocorrência isolada. Relatos confirmam que drones das Forças Armadas de Israel têm atirado contra civis próximos aos pontos de ajuda. Um ataque recente matou 15 pessoas e feriu outras 60 em frente a um desses centros, somando-se a uma lista crescente de vítimas que só queriam comida para sobreviver.
O som dos drones — apelidados pela população de “Zenena” por causa do barulho constante que emitem — está presente 24 horas por dia. “Eles estão sempre lá, sobrevoando, e a gente nunca sabe quando vão atirar”, conta um morador. A presença constante desses equipamentos militares cria uma atmosfera de pânico e paralisia. Muitas pessoas têm medo até de sair de casa, mesmo quando precisam desesperadamente de mantimentos.
Atualmente, a Fundação Humanitária de Gaza conta com apenas quatro centros de distribuição. Antes da guerra, a ONU operava 400. A diferença entre a necessidade e a capacidade de resposta é brutal. A ajuda humanitária que ainda consegue entrar no território é extremamente limitada — tanto em quantidade quanto em segurança para quem precisa dela.
A crise é agravada pela destruição de infraestruturas básicas e pela constante ameaça militar. A população civil, especialmente mulheres e crianças, está em total vulnerabilidade. O direito à alimentação, à proteção e à vida está sendo violado em larga escala, diante dos olhos do mundo.
Por que isso importa
O que está acontecendo em Gaza ultrapassa o conflito político ou territorial. É um colapso da proteção básica à vida. A fome está sendo usada como arma. A busca por ajuda virou risco de morte. E a comunidade internacional precisa, urgentemente, agir não apenas com discursos, mas com medidas concretas de cessar-fogo, entrada de ajuda e responsabilização por ataques contra civis.
Enquanto civis morrem tentando buscar comida, o mundo não pode continuar em silêncio.
Compartilhar essas histórias é o mínimo. Pressionar por ação humanitária real é o necessário.