O Brasil como laboratório da “uberização”: o que está por trás de iFood, Uber e o trabalho por aplicativo

O mercado de trabalho por plataformas digitais está crescendo no Brasil — e expondo milhões de trabalhadores a um modelo de negócio marcado por monopólios, controle algorítmico e precarização. Segundo estudo da Clínica de Direito do Trabalho da UFPR, o país virou um verdadeiro “laboratório” para experimentações desse tipo de relação, que opera no limite da legalidade e fora da proteção da CLT.

Crescimento explosivo, pouca proteção
Entre 2021 e 2024, o número de trabalhadores por app saltou de 1,5 milhão para 2,3 milhões. Só a Uber concentra cerca de 900 mil motoristas no país. A maioria atua em serviços baseados em localização, como transporte e entregas, e mais de 60% dos entrevistados ganham menos de dois salários mínimos por mês.

O algoritmo é o patrão
As plataformas controlam os trabalhadores por meio de algoritmos que distribuem tarefas, impõem metas e aplicam punições. Sem saber quem define as regras, muitos profissionais vivem “conectados”, com medo de perder acesso ao trabalho por conta de bloqueios ou baixa pontuação.

Falta regulação, e isso é parte do modelo
Segundo o estudo, essas empresas não se adaptam à lei, mas exploram as lacunas jurídicas para crescer. Criam “zonas cinzentas” que dificultam o reconhecimento de vínculos empregatícios. A ausência de um marco regulatório claro favorece o modelo de negócios e transfere riscos aos trabalhadores.

Concentração e monopólios
Uber, iFood e 99 dominam o setor com estratégias de mercado que ampliam o monopólio. Essa concentração fragiliza ainda mais quem depende desses apps para sobreviver, já que a concorrência não regula preços nem melhora condições.

Justiça e política ainda patinando
A maioria das decisões judiciais ainda nega vínculo de emprego, baseando-se na “autonomia” do trabalhador. No Congresso, projetos tentam avançar: o PLP 12/2024 (governo Lula) reconhece os motoristas como autônomos com acesso à Previdência, mas ignora os entregadores. Já o PL 2479/2025 (Guilherme Boulos) propõe uma tarifa mínima e regras básicas de proteção.

Resumo:
O Brasil virou um campo de testes para um modelo de trabalho por aplicativo que concentra renda, precariza relações e escapa da legislação trabalhista. Enquanto o número de trabalhadores cresce, os direitos ainda ficam no banco de trás — ou no baú da moto.

Se você vive ou conhece alguém nesse contexto, vale acompanhar esse debate com atenção.

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